quinta-feira, 4 de março de 2010

Quando os extremos coincidem

No mesmo em que voltei ao ciberespaço para comunicar às minhas miúdas algumas peripécias das últimas semanas, com mails mais pessoais à mistura antes que estas me linchassem, recebi duas notícias com uma temática idêntica às minhas confissões mas com significados absolutamente distintos. Uma amiga da adolescência, que não vejo há anos, informa-me carinhosamente que tem agora uma filha de 4 meses. E uma das minhas miúdas queridas (imagino que não queira que ande a alardear isto, mas não posso resistir, afinal de contas é a minha miúda, carambas!) diz-me com a maior tranquilidade que desde este mês está em treinos avançados para engravidar. Como é gritante o contraste entre a alegria destas notícias com os medos que lhes tinha revelado! Nunca como neste momento senti tanto a distância da minha realidade em relação aos seres de quem sou emocionalmente mais próxima. Que irónico. Quando imagino a excitação da minha amiga quando estiver a fazer o seu primeiro teste de gravidez, os seus passos ansiosos entrando numa farmácia tentando disfarçar a esperança para se proteger, quase me engasogo de riso relembrando os momentos que vivi há umas semanas. A mesma geografia de movimentos. E tão distante dos meus sentimentos como a Nova Zelândia. Eu só me recordo da vergonha que senti a falar com a sra da farmácia. É que estava convencida que ela iria pensar que era uma irresponsável que nao sabia tomar precauções. E quanto me estava a irritar a ideia de que alguém pensasse que era capaz de brincar com a minha saúde! Só pensava, uma e outra vez "Logo eu!Eu não corro riscos, minha senhora. A sério que não! Epá, mas e se não é o meu corpo a pregar-me uma partida e eu faço mesmo parte aquele 0,005%?!". Eu sei, é ridículo, mas era só nisto que pensava. Só mesmo no tempo de espera do resultado senti verdadeiro pânico. 3 minutos. Os mais longos da minha vida. Dolorosamente arrastados. O sangue a rugir nos ouvidos e aquela sensação bizarra de sentir o cérebro a mil e simultaneamente catatónico.Ufa! Quem me conhece sabe quão ambígua é a minha relação com a ideia de ter filhos. Crianças, gosto muito, desde que em grupos até 3, mais do que isso já começa a ser um perigo para a minha paz de espírito. Mas crianças minhas é outra coisa. Por um lado está a sensação clara de que quero muito, algum dia, criar uma menina. Por outro está a realidade que me mostra que desde que terminei a faculdade pensava que filhos apenas dali a 5 anos. E os anos íam passando e a margem mantinha-se nos "daqui a 5 anos". Nos últimos tempos a margem de tempo nao tem feito mais do que aumentar. Há tanta, mas tanta coisa que quero fazer que é incompatível com ter filhos, tantas vidas que a minha mente esquizofrénica quer experimentar...Claramente, por este caminho vou deparar-me com uma barreira biológica. E sempre foi claro que a minha decisão de ter filhos nunca seria refém duma imposição de tempo. Por isso é tao surpreendente como a minha amiga, que sei que apesar das nossas diferenças sente também muitas das minhas dúvidas, consegue conciliar esta ambivalência. E fico tão orgulhosa e excitada de que o faça com alegria!!Ai, estou desnorteada com tudo isto. E com o facto de não a poder afogar com um abraço e mil perguntas.

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